quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Silêncio que se canta o Fado


















Silêncio  que se canta o fado!
Ouçam a voz do fadista insone
Que também finge ser verdade,
O fado que deveras lhe consome.

O fado é Amália Rodrigues
Traduzida em Madredeus
Que roubaram para os seus,
O cantar de um rouxinol.

O fado está nas quilhas,
Nas espumas, nas milhas,
No albatroz que cirandeia
A incansável embarcação.

É um  lamento dobrado
No aço da guitarra, o fado.
É a rosa, é o espinho
Tangendo a mesma mão.

E Deus, infinito e majestoso
Tendo os átomos evocado,
Fez o mundo, fez o homem,
Além do alecrim prateado.

Realçou o negrume da noite
Com pendões estrelados.
Do homem fez a mulher
E d’alma dela, fez-se o fado.

Silêncio que se canta o fado!
 Ilustração do próprio autor.

José Albeto lopes®
2005 SBC-SP- Brasil

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Cigarra cantando sete Haicais

Casa de  solteira-
Cachorro bebendo água
No  cano furado.

Aroma de vinho-
Uvaias esborrachadas
No  chão do vizinho.


O galho no rio-
Por um brevíssimo  tempo
Descanso da flor.

Será  meu senhor
Saindo do  velho tanque,
A  rã de Bashô.?

Estiagem longa-
Cabritada devorando
A embira da cerca.


Silenciosidade-
Parece que dá pra ouvir
O mato crescendo!

O cristo no morro
Com esse frio, se  pudesse-
Cruzaria os braços!

Ilustração do próprio autor.
José Alberto Lopes®
ago.  2011

Haicais - livres

Epifania-
Tua boca
Na minha.

Teu beijo de Jintan
Deixa-me
Tantã.

Dona flor
E seus maridos-
Panapaná chegando.


Pássaros de pau-
pregadores
no varal.



Ilustração do próprio autor.
José Alberto Lopes®
ago. 2011