quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A Aranha........














Vibram as sedas..........
Há um inseto a debater-se
Naquela teia, refém.
Domínio daquela aranha
que de forma calculada,
é prisioneira também!



Obs: imagem- google.
De José Alberto Lopes.
30/08/2005 (refeita)

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Haicai de José Alberto Lopes

Ah, terra Natal!
a mesma lua e montanhas
nada mais que isso.


Em visita à cidade  de Cubatão, onde nasceu, o  poeta se entristece ao notar que algumas coisas estavam fora de lugar.
Os bananais de outrora,. quando partira, deram lugar para fábricas. Os  riachos, antes piscosos e  cristalinos, haviam desaparecidos assim como as verdes e densas brenhas.
Da casa onde nascera, nenhum vestígio, assim como dos  amigos de infância.
Somente a  majestosa lua e a grande muralha da serra do mar, essas duas, ainda familiares.


JAL.14/11/2013

Mais um Natal



Mais um Natal!
Velhas canções
ecoam novamente
na harpa de "Bordon"
Amigos idos.., sumidos..
recordo em cada nota,
em cada compasso,
em cada tom.

As luzinhas chinesas
nas alamedas, varandas...
piscando suas cores 
freneticamente,
parecem correr e correr...
como tem corrido o tempo,
pois ontem ainda era Natal
e já é Natal novamente!

Autor-José Alberto Lopes. 31/10/2013

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Minha Velha Calculadora





(Homenagem ao meu amigo Nelson Vidner)


Aqui está a verossímil.
Não é nenhuma científica,
Mas para os meus pobres cálculos
A eles se prontifica!

Não são mais que oito dígitos
E apenas uma bateria.
Comprada na (25) vinte e cinco...
Na calçada da alegria!

Eis a voraz calculadora
Sempre pronta pra me enganar.
Com sua resposta tamanha
Faz o meu mês se alongar.

De cristal líquido, me aponta
O que eu não queria atinar.
Que o meu líquido é que é menor,
Que as minhas contas a pagar!

Aqui está a pobre sem marca
E não sou eu quem a discrimina!
Afinal, cavalgadura dada
A dentuça não se examina!


José Alberto Lopes
SBC-SP. 11/08/2002




Aquele homem....

(obs; foto internet)


Ah! Aquele homem
Sisudo, glacial.
Passou a vida inteira
Reservando o melhor vinho
Para especial ocasião!

Mas, certo dia a morte,
Essa víbora insuperável,
Chegou de súbito e abraçou-o
Num nó adstringente!

Abandonada a casa,
Vieram os salteadores
Como corvos sobre a carne
E se embriagaram, gole a gole,
Daquele mesmo vinho
Que reservara aquele homem!



José Alberto Lopes
SBC-SP- 01/11/2013


sábado, 26 de outubro de 2013

Quando haviam muito mais picos em Itabira

  

(foto internet)


 Já surgia  a manhã, como se  fosse o pó fosforescente de um vagalume esmagado. Os sapos na beira do tanque, solenemente observavam a fornicação das moscas em pleno voo. Na horta as lagartas prosperavam e na casa grande o aroma do café novo  convidava...
Os pardais aos poucos abandonavam as galhas camarinhas e em bandos  ruidosos realizavam suas revoadas.

- O MUNDO GIRA
ROLA MUNDO
NO BREJO DAS ALMAS
- TAMBÉM CANTAM AS RÃS.

O TEMPO PASSA? NÃO PASSA
UMA HORA E MAIS OUTRA – ESPERA!
O POETA ESCOLHE O SEU TÚMULO
- MAS NÃO ESCOLHE ONDE VAI NASCER.

- O MÊS JÁ MORRIA
COMO A -  MORTE DO LEITEIRO.
- ERA O DIA 31 (UM FILHO) O NONO.
RETRATO DE FAMÍLIA...
AMÉRICA – NOTÍCIAS.......


Era  31 de outubro de 1902. – Nascia em Itabira do Mato dentro, interior de Minas Gerais, o nosso poeta, “A ROSA DO POVO” , Carlos Drummond de Andrade.


                                                                                                                 
Por José Alberto Lopes- SBC-SP.

26/10/2013

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Recordando meu pai - (Unforgettable)



Agora compreendo,
Recordando meu pai
O seu rosto fechado
De tantas repreendas.

Suas palavras poucas
Transbordavam lições.
Agora compreendo,
Recordando meu pai.

Tantas batalhas cruas,
No sal de cada dia,
Sol a sol, o pão tinha
Sabor de honestidade!

Agora compreendo,
Recordando meu pai
Aquele rosto doce, fácil,
A esconder tristezas...

Agora compreendo
As suas mãos calejadas,
A sua fronte sulcada
E os cabelos nevados.

Hoje ando na sua idade,
A mesma que ele tinha
Quando enfim nos deixou.
Moço ainda, meu pai!


02/08/2013-SBC.


 José Alberto Lopes.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Frases comerciais que ficaram na memória...



     Há uma frase bem popular que diz: “A propaganda é a alma do negócio”
É verdade. De uma forma ou de outra, já fomos ou estamos sendo picados por esse insistente                        
insetozinho.
Por isso, uma frase bem elaborada, dentro de uma
Propaganda (Um jingle ou uma frase seca) pode ser a chave mestra para o sucesso do produto.
Uma frase inteligente, ou mesmo simples, mas massificada, marca território e deixa indícios
indeléveis em nossas mentes.
Creio que nesse exato momento, algum leitor que por acaso esteja honrando com sua leitura
este humilde texto, esteja a pelejar a lembrança de alguma frase. Por curiosidade e num esforço de memória, consegui resgatar algumas dezenas delas. Muitas marcaram
época. Algumas são regionais, outras, conhecidas nacionalmente, umas mais antigas, outras
mais recentes e algumas até antológicas.
Procurei cadenciá-las cronologicamente mesmo que de forma empírica, mas o que vale é o
registro, a lembrança.



1.     Casas Pernambucanas onde todos compram.
2.     Repórter Esso testemunha ocular da história.
3.     Se é Bayer é Bom.
4.     Pílulas de vida do doutor Ross. Pequeninas, mas resolvem.
5.     Cera Parquetina por onde passa brilha.
6.     Dura lex sed lex no cabelo só Gumex.
7.     Beba Coca Cola!
8.     Balão no céu perigo na terra!
9.     Pente Flamengo – É pra cabeça.
10.  Pirani a gigante de São Paulo.
11.  Mate Leão. Use e Abuse - já vem queimado.
12.  O mundo gira, a lusitana roda.
13.  Beber Caracu é beber saúde.
14.  Café do Ponto o ponto mais alto em café.
15.  Eveready a pilha do Gato.
16.  Wolksvagem, o bom senso sobre rodas.
17.  Violão é Digiorgio naturalmente.
18.  Café Caboclo. Eta cafezinho Bom!
19.  Kinnor é melhor.
20.  Se a marca é Cica bons produtos indica.
21.  Conte com Philips para viver melhor.
22.  Pirelli é mais Pneu.
23.  Não é assim uma Brastemp!
24.  Continental preferência Nacional.
25.  Põe na Cônsul!
26.  De mulher pra mulher, Marisa.
27.  Pilhas Rayovac as amarelinhas.
28.  Fogos Caramuru, os únicos que não dão xabu.
29.  Quem bebe Grapet repete.
30.  Doeu? Passa Gelol que passa.
31.  Molas Sweden, nunca Cedem.
32.  No mar, na terra ou no ar, Baterias Heliar.
33.  Tomou Doril a dor sumiu.
34.  Café Haiti, ta fazendo na cozinha, ta cheirando aqui (Reneu)
35.  Do Pinheiro ao livro, uma edição Melhoramentos.
36.  Mercedes Benz. Sua Boa estrela em qualquer estrada.
37.  Caninha 51- Uma boa ideia.
38.  Trol, bom motivo pra ser criança.
39.  Você pode confiar na Shell, mora!
40.  O primeiro Valisére a gente nunca esquece.
41.  Dulcora, a delícia que o paladar adora.
42.  Arroz é Brejeiro- Falou Brejeiro, ta falado.
43.  Dia sim, dia não- Ultragaz no portão.
44.  Tinta é, Coral.
45.  Nescau! Gostoso como uma tarde no circo.
46.  Tudo anda bem com Bardahl.
47.  Bardahl não é uma experiência, é uma certeza.
48.  Havaianas-Não deforma, não tem cheiro e não solta as tiras.
49.  Kolynos Ah...
50.  Sardinha também tem nome: Gomes da Costa.
51.  Viaje bem, viaje Vasp.
52.  Eeeeeta, só vou de Lambreta!
53.  Cândida, a maioral na limpeza geral.
54.  Cera Blume: No assoalho brilha mais com menos trabalho.
55.  Nove entre dez estrelas do cinema preferem Lux.
56.  No ar, Jato Caravelle da Cruzeiro do sul. A bordo tudo azul.
57.  Carioca vai, carioca vem. Super ponte Real.
58.  Só Esso dá a seu carro o máximo.
59.  BIC é assim que se escreve.
60.  Para brilhar e conservar, só Nugget
61.  É cor. É Brasil. É Bamba no pé.
62.  Duchas Corona. Um banho de alegria, num mundo de água quente.
63.  Antártica! Sou louco por pipoca e guaraná.
64.  Cigarros Chanceler. O fino que satisfaz.
65.  Danoninho. Vale por um bifinho.
66.  Deu duro? Tome um Dreher.
67.  Você imagina. Clic, a Arno faz.
68.  Se não for Willys, não é Jeep.
69.  :.melhor perguntar no posto Ypiranga.
70.  Óleo Maria. “Maria! Sai da lata”.
71.  Neocid é de matar! (Na voz do cômico Zé Trindade)
72.  Licor Strega. - ...E o espírito da lenda subsiste. Se ele e ela beberem Strega, jamais se separarão. Strega, um raio de sol liquefeito!
(Em Benevento, Itália, as bruxas se reuniam sob forma de formosas donzelas. Lá, elas preparavam um licor, o Strega.---E o espírito da lenda subsiste.......)

73.  O mar é quem dá o sal, e Rodolfo Valentino lhe dá o melhor sal.

Quem se lembra dos saquinhos de sal “Rodolfo Valentino?”Vinha, com o rosto do artista estampado  com as características dum dos seus personagens, talvez do filme“O Sheike”  impresso num azul quase inexistente.  Depois de vazio o saquinho de  um kilo, aberto e alinhavado nas bordas, transformava-se  numa espécie de toalhinha, ou coisa do gênero, onde  ainda, mesmo após algumas lavagens, era possível ver a estampa do Rodolfo!
    74. Quem tem Ford vai à Janda.
    75. Quem tem Dodge Vai à Janda.
    

Nota: como saideira, relaciono aqui algumas lojas que também marcaram com seus nomes bem pitorescos. É possível que nenhuma delas exista mais.


  1. Roupa Dada.
  2. Ao Preço Fixo. (Santos)
  3. Casa da Sogra.  (Santos)
  4. Ao Barulho da Lapa.
  5. Bazar da China. (Santos)
  6. Loja da Bagunça. (Guarulhos)
  7. Ao Veado d’ouro. (SP)
  8. Casa da Banha. (RJ. - SP)



Agradeço a colaboração de Kathleen Lessa.

Obs: Se alguém se lembrar de alguma frase, envie-me. Colocarei no Rol.
Grato.

José Alberto Lopes®
SBC-SP 08/05/2010


sábado, 18 de maio de 2013

Perto e longe


Perto estão os dissolutos
A nos manterem longe dos seus atos.
Longe é o amor que está perto
Quando o ignoramos.
Perto  está a morte que nos espreita, nos atormenta
E que julgamos sempre longe.
Longe vai o pensamento
Pra perto de outros lugares.
Perto está a luz do sol,
Longe está a luz dos teus olhos.
Longe, as palavras benditas
Reverberando perto de nós.
Perto ouvimos gritos dissonantes
De quem está longe da integração.
Longe voam os pássaros
Na migração noturna,
Perto de incontáveis estrelas.
Perto te queria agora....
Todavia, longe estás
Perto de outro!


José Alberto Lopes.
 2010-sbc-SP.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Jóias aos pés




Vejo aquelas florzinhas miúdas
Que medram rente ao chão,
Nas trincas dos muros no asfalto....
Ignoradas, porém, lindas são.

Colhi delas um ramalhete;
Tinha azul, amarelo e branco.
E exalavam também perfumes,
Iguais as florzinhas do campo.

Amigos viram o arranjo
E ficaram admirados.
“Seriam as holandesas
Que por aqui já se tem cultivado?”

Olhei para elas e sorri...
Dizendo em tom claro e alto:
São as que medram nas fissuras,
Das calçadas, muros e asfalto.


José Alberto Lopes®
2006

O trem daquele tempo.




 

Out. de 2012-11-12
José Alberto Lopes.

Era um vulcão que andava.
Andava ao som da marcha dos seus pistões.
Descia e subia a velha serra do mar
Esvoaçando a sua longa e negra cabeleira.
Lá embaixo, na terra dos Andradas,
Cidades iam medrando do pé da serra
Até onde o mar engolia o céu.
Manhãs prateadas de névoa e o ouro do sol
Aos poucos se impondo com seu brilho.
E era alimentando a fornalha que Faustino
Alimentava em casa, seis bocas .
A negra máquina era também a sua casa.
Lá iam vagões solitários
Seguros mais pelas mãos divinas
Que por seus cabos de aço.
Levavam pessoas indiferentes
Presas também a seus fios, pensando na vida
Ou não querendo pensar.
Talvez pelo fio do medo, o fio da vida.
Por um fio, o fio de cabelo, o cabelo do relógio
(O fio do tempo) de um tempo ido.
Era um vulcão que andava, andava  ao som
Da marcha dos seus pistões.
Hoje, um vulcão extinto!


O Cine Cisne

  
Era uma construção lá do início do século XX. Telhado bem apanhado, terminado com gárgulas fantasmagóricas. Portas altas de carvalho trabalhadas a mão e uma escadaria em granito escuro. O prédio era caiado todos os anos, o  que lhe conferia sempre bom aspecto.
Seu Galdino não queria presenciar a demolição daquele prédio, onde funcionou o único cinema da cidade. Ele  trabalhara na  projeção dos filmes por longos  cinquenta  anos, mas criou coragem e foi.
Uma platéia circundava a área para assistir o que seria o último   e derradeiro espetáculo. Ali seria construído um estacionamento para veículos.
As paredes não resistiram à primeira estocada. Um cheiro de passado que decantado estava, parecia tomar conta do ambiente.
 Um  filme deve ter passado pela cabeça daquele  velho homem, os seus olhos já marejavam. Então, tomado por uma  solidariedade silenciosa e também emotiva pus-me a  divagar acerca de alguns filmes que ali assistira há muito tempo:

 -De quê  valeriam agora os gritos de “Tarzan, o filho da selva” a força de “Hércules”, aquela corrida de bigas  ganha por “Ben-Hur”, a paciência e perseverança de “Papillon”.. etc..?
 Aquilo era a própria “Ascensão e queda do Império Romano”.

Antes que o último tijolo caísse, retornando à origem, seu Galdino deu as costas para aquele estranho show e foi  embora. Não, ele  não suportaria.
Pois é, quase ninguém se indignou com  a demolição de um  prédio histórico. Ninguém apupou o seu desaparecimento, mas apupariam com certeza o velho Galdino se nesse momento  estivessem eles, numa sessão de cinema e o filme durante a projeção,  por infelicidade,  enroscasse, como acontecera algumas vezes.



José Alberto Lopes®
Jun. 2011










CONFISSÕES DE MARAPRAIA

 
Como um louco oceano
Ele invadiu o meu delta
Em algazarras selvagens
Como se um bando Celta.

Depois rasgou os meus diques
E desgrenhou o meu leito,
Quedou-se entre os meus seios
A ouvir célere peito.

Como um louco oceano,
Banhou-me em vagalhões,
Também sentiu o meu sal
Esquecido em meus porões.

E adentrou a minha casa
E bem disse a arquitetura.
Fez-me de dona e escrava
E completou a sua usura!

Por fim exausto deitou-se
Sobre a minha amurada.
Beijou-me e adormecemos,
Como velas arriadas!

E na vazante primeira,
Lá nos baixios das rocas,
Deixou-me furtivamente
Já no amanhecer das docas.···.

José Alberto Lopes.
2007

A rede e o Amor



Ouça o vento assoviando,
Olha a lua ainda lá,
O mar te acordou cantando,
Não demora clarear.

Pega o vento lá nos breus,
Põe na vela vai pra o mar,
O vento é dado por Deus,
E o peixe tem que pescar.

Joga a rede, vai João!
Joga a rede sem temer,
Mas na hora do arrastão,
Cuidado pra não romper!

Joga a rede e não se queixe,
Não espere amanhecer,
Aproveita que tem peixe,
Amanhã pode não ter.

Ficou na beira da praia,
Lá na areia uma flor,
Mariana Rosa Maia,
Mariinha seu amor.

Pra botar peixe no mar
Alguns dias Deus levou.
Cada peixe deste mar
É o amor que ela jurou.

Pra não ter um dissabor,
Puxa a rede devagar,
Canta e puxa pescador,
Seu amor ta a lhe esperar.

Tanto o amor como uma rede,
Pedem amabilidade,
Pois de linha é feita a rede,
E o amor é de saudade!


Rev . 13/05/2008
Origem. 27/06/2005

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O triste fim de Policarpo Quaresma




Ponta da praia-Santos- SP. [1971]


(Com a devida licença de Lima Barreto)




Era noite ainda quando o velho navio sentiu descochar as suas amarras. Nem a pesada âncora deu conta. Uma grotesca tempestade o arrasta em portentosos vagalhões, arremessando-o à praia.
Amanhece e um gigante monumento de aço com mais de 62 metros de comprimento é o que se vê, ainda aprumado e plantado na areia como se fosse zarpar.
Aquela fortuita coisa, digere logo a atenção de centenas de pessoas que correm para lá, curiosas e espantadas.
Na proa e na popa, lia-se em letras grandes, já quase apagadas, o nome da embarcação: Policarpo Quaresma.
Com a proa apontada para o mar, parecia aflito pedindo ajuda, porém, as inconstantes marolas sequer tocavam a ponta do seu casco. Estava ali na areia, a mesma areia que tantas vezes o viu passar e desaparecer na curvatura do mar.
Sua quilha, peito de águia, comprimida sobre o chão, nunca mais singraria aquelas águas, pois à tarde vieram uns homens com suas marretas, maçaricos e serras e o retalharam como boi no matadouro! Só retiraram intato de suas entranhas, o enorme coração movido a Diesel e seus braços de aço em forma de pás. O restante virou mesmo sucata de segunda.
Foi sem dúvida um triste desfecho para quem durante décadas enfrentara tormentas e madrugadas frias, mas sempre trazendo para o cais, os seus marujos, o seu capitão, além de toda carga. Todos, sãos e salvos.
Penso caro leitor, que poderiam tê-lo de alguma forma, poupado desse vexame. Poderiam relançá-lo ao mar e afundá-lo, como é de costume na maior parte das vezes. Serviria ainda por muito tempo de moradia aos peixes, até que os vermes do mar o consumissem para sempre.
Sim, poderiam dar-lhe um fim honroso, digno das boas embarcações, mas quis o destino talvez, por causa do nome que carregava, imputar-lhe também este triste fim.



NOTA: 

Homenagem ao navio originalmente chamado: Carl Hoepcke, um luxuoso navio de passageiros, de origem alemã, na época fundeado em Santa Catarina. Aquele que encantou por décadas os Florianopolitanos, teve a sua trajetória interrompida por causa  de um incêndio ocorrido em 27 de setembro de 1956. Depois de uma reforma e transformado em navio cargueiro acabou sendo vendido para uma empresa no norte do país. Passando por vários donos, acabou em Santos, São Paulo, como Navio-Recreio, que ficava fundeado do outro lado, na praia do Góes.
Em 26 de fevereiro de 1971, aconteceu o incidente, vindo encalhar na ponta da praia em Santos, a 100 metros da Avenida Bartolomeu de Gusmão.
Com as inconstâncias do lugar, por causa das marés, hoje é possível ver partes do seu casco que ainda jazem nas escuras areias da ponta da praia.





domingo, 12 de maio de 2013

Certos jardins



Há certos jardins
Que é preciso reviver.
Rever canteiros de flores,
Os bancos marcados pelo tempo
Onde se sentavam sonhos
E eram bons os sonhos.
Pisar as calçadas
E andar pelas alamedas de hortênsias.

Rever a árvore grande e anosa
Marcada a canivete.
Rever então os entalhes profundos,
O meu nome e o dela,
E dois corações que pulsavam.

Saudades...


JAL- SBC- SP.
12/05/2013

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A SERRA







Agora te vejo inteira, desnuda!
O noroeste varreu a cerração.
O! Muralha azulescente que beira o céu,
Que beija as nuvens pervagantes.

Os automóveis serpenteiam a tua arquitetura.
De dia,  são carreiras de formigas,
À noite, são graciosos pirilampos
Em chusmas ordenadas cortando o breu.

O Atlântico te espia saudoso e distante.
De lá vem essa brisa solfejando coisas, segredos...
Como o mar, também me afastei de ti.
Foi em teus artelhos que nasci!

Talvez um dia, quem sabe o mar retorne
Para afagar, intensa e definitivamente
A tua majestosa geografia!

Ah! Esse penacho de fogo inconstante
Que fulgura em teu contraforte,
É luz votiva por certo velando por ti!

O! saudosa e querida serra
Onde as manhãs gorjeiam
Desde as copas inalcançáveis
Até os abismos recamados de flores.

És impávido colosso, e eu apenas,
Frágil e efêmero como as cigarras
Que vibram as suas palhetas
Desde o cariçuma de verão!

Por isso, com a certeza de uma flecha Tupi,
Sei que quando enfim eu tomar
A minha estrada derradeira,
Tu ainda permanecerás
Colossal, exuberante e altaneira
Como se, a união de pirâmides e catedrais,
Por eternos e eternos séculos!

Teu clima inconstante
É como a minha alma!
O sol se vai e a neblina
Arrebata-te novamente.
Chegou como sempre sorrateira
E vai estendendo lentamente
A sua gaze leve e úmida
Sobre a tua pele de flúor e flores.
Sobre a tua sinfonia de águas e ventos,
De insetos, animais, aves e coisas do mato...

Parto!
Não como um navegador
Que cruza revoltos oceanos,
Ou o cosmo desconhecido,o deserto...
Nenhuma odisseia se avista! Não!
Apenas retorno à minha outra serrania,
Feita de aço e concreto,
Concretamente ruidosa e exasperante!

Levo um pouco do teu hálito.
Deixo-te umas efêmeras lembranças,
Minhas pegadas...
Levo um pouco da tua energia recriadora,
Muita saudade e uma flor de manacá.

O mar deixou em teus socavões
Pequenas conchas, priscas eras...
Eu, num suspiro deixo-te também
Humildes, mas profundos afagos em versos,
Um poema frágil.....

Quem sabe um dia, quem há de saber?
Zanzalá ecoe em teus vales
E esse tom de paz que encontro em ti
Possa finalmente ser rizoma de lírio do brejo.
E seremos todos; Tucas e Zéfiros.
E Schmidt descerá então triunfante
Flutuando sobre páginas de um livro em branco!


Nota: Cariçuma = “O romper da manhã sobre  a serra, no dialeto das Rãs” (Afonso Schmidt)

José Alberto Lopes.
15/04/2013-SBC. SP