sábado, 13 de março de 2021

Poemetos.....

 


Num dia vernal

Tu passavas por mim.....

No verão era bom ver teu sorriso.

No outono despenquei-me a teus pés.

No inverno agasalhei-me em teus braços.

Já noutra primavera, éramos um campo de girassóis....

E então, bastou o olhar de Van Ghog!

 

 

Quisera descansar meus braços

Sobre o teu corpo cansado

E fazê-lo leve, leve...

Num afago constante, alongado!

Até que o meu cansaço

Envolva o teu cansaço

Num descansar de abraços!

 


Ah! os teus cantares

Longínquos devem estar.

O! cigarra do eterno canto

Em que salgueiro ou ciprestes, vives

Que não vivo a ouvi-la cantar?



Na gravidade do outono

As folhas seguem um rito.:

Saltam para o abismo da mata

E por uns instantes.... são borboletas....

 


A procura de flores

Andei jardins de ninguém.....

Mas um dia a encontrei

E era a mais bela entre as floristas,

Mais bela que as flores que procurei!

 

 

Na minha cumeeira

Andorinhas vão se aninhando.

No meu jardim medram lindíssimas flores.

À tarde, enquanto chilreiam,

Colho borboletas, um buquê.

São belas e envolventes suas cores,

São pétalas que voam

Que entrego a você!


Quero que o tempo passe
Com rigor
Que passe depressa
pra logo eu ver o meu amor!


Depois,
quero que o tempo pare
pare tão somente
pra eu amá-la eternamente!



Ausência...

 
Eu não sentia a tua boca
Mesmo colado aos lábios teus.
Eu não sentia o teu corpo
Mesmo tendo-o sob o meu.
 
Apenas um gozo profundo...
E  tu apenas gemidos fingidores.
Agora somos argila fria, muda.
Dois belos vasos sem flores!
 

O DOM DO PENSAR...


O dom do pensamento
é magia, é poder.
O dom do pensamento
é ave altaneira
e seu olhar e voo
são livres, livres...
O dom do meu pensamento
me leva até você.
Pois posso sentir
o vinho dos seus lábios
se derramando em meu cálice.
Antevejo suas mãos liriais
espalhando o bálsamo
sobre meu corpo.
Posso sentir o arrepio do calor
que  ora invade  a minha alma.
O dom do pensamento
não vê distâncias nem barreiras,
nem tempo, nem momento..
Principalmente
quando o meu pensamento..(desejo)
se apaixona por seu dom de mulher..


Hoje, estou menos eu. Sabe o que isso significa?
É o mesmo que  olhar-se no espelho e não se vê.
Ah!! são tantas coisas...
É ouvir passos alheios subindo  pela escada
e em vão imaginar que são os teus ...

Hoje amanheci sem graça, sem sol, sem brisa...sem nada!
Ouvi passos que  não te traziam a mim.
Ouvi risos. _  Oh! quem dera fossem...
Somente  o teu perfume ainda impregnado
naquela camisa amarrotada
ficou como o restolho do sorgo deixado no campo!
..........................
De A- 2019 / abril

Idílio-I

Venha e apague meus olhos
com teus lábios de rubi.
E com tu língua
acenda as estrelas cansadas
do céu da minha boca!
Só porque te vi novamente
meu coração acelerou-se
feito peito de colibri.

De A. - abril-2019

Ode à minha escrivaninha

Ah! Essa escrivaninha
Simples como eu,
antiga e marcada
como  marcadas estão
minhas mãos e rosto!
É sobre ela que deito
meus papéis e livros
E ponho-me a escrever.

Quantas e quantas vezes
pestanejei sobre seu madeiro
nas solitárias madrugadas,
de silencio quase absoluto
em que teimosamente
esperava por ela, a inspiração!

Seu verniz  gasto e já sem brilho,
É o mesmo que a minha pele
Flácida e opaca!
De pernas enfraquecidas
E sem prumo, como o meu caminhar!
Assim mesmo, está comigo
Já há muito tempo, minha escrivaninha
De madeiro escuro naquele cantinho claro
da minha sala de estar!

Até a sua  pequena gaveta,
repleta de papéis;
versos mal acabados,
esquecidos, segredos...,
emperrada está, como a minha
própria memória!
Como se vê, somos iguais em quase tudo!

Poderia ter sido  uma guitarra,
Um barco, uma cama ou uma janela.
Sim, e  até uma escrivaninha!
Mas, por que  escrivaninha?
A bem da verdade;
Tenho ali o som poético duma guitarra
O barco das minhas viagens imaginárias.
A cama das minhas paixões e desejos.
E a janela das minhas paisagens..

O que mais preciso eu
Se não dessa síntese...
Dessa escrivaninha
Antiga, de madeiro escuro
naquele cantinho claro
Da minha sala de estar?

Poema de Alberto L.
21/out. 2016

Gosto quando...

Gosto quando a tua língua,
Serpente cega e louca,
Invade o céu da minha boca
E acende as  minhas estrelas.

Quando a brisa da tua fala
Me invade suavemente
Com palavras indecentes
E me preparas para ti.

Gosto de sentir  as tuas mãos
Entre meus vales e picos,
E quando paras nos bicos
E mamas meus desejos.

Gosto quando invades
O meu umbigo pequeno
Com volteios serenos
Provocando-me arrepios.

Gosto quando me assolapas,
Com tua maré voluptosa,
O meu delta cor-de-rosa
Num intenso preamar.....


AL-2010

Teu Odre

No ir e vir constante,
deliberadamente
quebrou-se o teu odre
e derramou em minha cava
ainda imaculada,
o teu vinho
imaculado e Nobre!


En el ir y venir constante,
deliberadamente
se rompió tu odre
y derramó en mi cava
inmaculada,
tu vino
¡Inmaculado y noble!


De AL -Trad. jun
AL out. 2019

Papel

Se tu fosses meu papel
e eu a tua pena,
escreveria  em ti
profundo poema!!


(O milagre do vinho começa com a fé no trabalho do lavrador)

ALC out. 2016

embarcação

Comparo o homem
a uma embarcação:
Os olhos são o leme.
O peito é a quilha.
O coração, o que impulsiona.
À sua frente a vida,
o mar da travessia!
Há homens que se lançam ao mar
e homens que preferem
as amarras dum Cais!


Alberto L
out. 2016

A NOITE

Gosto da noite!
Dos aromas e sons,
do movimento no cais.
Do mormaço, da brisa,
das mariposas insanas
girando, girando!
A chuva na noite
revelando suas pérolas.
As mulheres na noite
são sempre mais belas.
As luzes da cidade
parecem um braseiro
avivado pela viração noturna.
Ah! a noite  com seus sortilégios,
seus mistérios...
Se a noite é uma criança
o dia é um velho cansado, exangue!
A noite é mesmo outro universo
onde o poeta uni versos e poetiza.
A noite livra-me da opressão,
dá vida, e sendo bela a vida
a noite é belíssima.
A noite é mãe do universo.
Na noite não há deuses,
anjos nem demônios a importunarem!
Por que eles também
gostam da noite!


Poema de Alberto Lopes
10 de outubro/2016






 

terça-feira, 2 de março de 2021

Tristonho/Margens

 

 

Sou tristonho por ser a margem

De um rio sinuoso e lento

Sendo tu a margem oposta!

 

Lá, deitas sobre tapetes de seixos.

Lá onde a brisa parece mais sonora!

 

Onde o Ingazeiro arqueado sobre as águas

Brinca contigo e com os peixinhos

Desde os primeiros raios de sol.

 

Ah! como sou tão tristonho

Por ser a margem de cá!

 

Aqui o sol quase não chega

E em vão os meus outonos

Tentam alcançar a tua primavera.

 

Ah! essa margem tão perto, tão distante!

 

Sou tristonho por ser esta margem

Sombria, abrupta. Penhasco da minh’alma.

Porém mesmo assim é bom te ver.

Prefiro a tristeza de vê-la mesmo do lado de lá!

Mesmo que tuas mãos jamais me acolham

Como acolhem os peixinhos e o  Ingazeiro.

 

 

De José Alberto Lopes –

31/01/2021