domingo, 25 de dezembro de 2011

Contém haicais de Ano Novo

mais um ano passa-
velhas contendas dos homens
o ano novo abraça.


o ano velho e o novo-
como um fogo se apagando
acendendo outro.


em meio ao frenesi-
o chamado ano velho
ainda um guri.


tertúlias de vento-
nas ramagens do bambu
segredos do tempo.


caneta no fim-
conta certa pra escrever
meus haicais chinfrins.

José Alberto Lopes®
(ilustração do autor)


segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Rapidinhas de Natal

Noite de natal,
Cai uma chuva fina.
Neve tropical,
Sobre o poste da esquina.

******

Catando papel
No breu da noite vagueia
Lembra-me Noel,
Mas sem eira e nem beira.

******

Trazia brinquedos
E os deixava na janela.
Levava os meus medos,
Oh! Minha mamãe Noela.

******

Na beira do cais,
Despedi-me de Noel.
Partiu pra nunca mais,
Num barco de papel.

******

Na minha lareira de mentira,
Deixei um par de botinas.
Entrou um Noel de mentira
E levou-me até as cortinas.


******

“A missa é do galo
e a ceia é de peru.”

25/12/2008
José Alberto Lopes®

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Cordel Para Vicente de Carvalho




Cordel par Vicente de Carvalho

(Vicente Augusto de Carvalho-Santos, 05/04/1866 – Santos, 22/04/1924-ABL cadeira  nº 29, que tem como patrono Martins pena)




Advogado e político,
Magistrado e jornalista.
Nasceu em terras praianas
Aqui em solo santista
Onde o mar foi testemunha
Desse poeta humanista.

Nos idos mil 866
Em abril do quinto dia,
Filho do major Higino
O então poeta nascia
Embalado por sua mãe
E também pela poesia.

Veio depois do primário
Estudar na capital
Lá no colégio Mamede
Da São Paulo “provincial”
O menino já poeta,
Mostrava-se genial.

Faculdade de direito
Já com vinte, bacharel.
Republicano ferrenho
Desempenha o seu papel
Sem perder a suavidade
De poeta menestrel.

A poesia florescia
Com tendências parnasianas.
Grande artífice dos versos
Lá pelas orlas praianas.
Versos rasos. (sobre a areia)
Fundos versos. (marianas)

Ante ao golpe de Deodoro,
Lá em Franca foi morar.
“Profundo  golpe em seu peito
como profundo é o mar,
que lhe era como um ópio
versos, sangue elementar”.

Nas ardentias das tardes
Seu coração marulhava,
E na alvura de uma brisa,
Enquanto o sol descambava,
Mais um verso, uma prosa,
O poeta alinhavava.

“Deixa-me, deixa-me fonte
dizia a flor a chorar”
“E fugindo ao cativeiro
vejo palavras ao mar”
“Relicário, voz dos sinos”
Foi o poeta do mar!

Hoje há uma estátua erguida
Relevando o bem-feitor.
Na política e na cultura,
Chama ardente sim senhor...
Foi Vicente de Carvalho
Grande poeta e doutor.



José Alberto Lopes®
2005

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Soneto da escuridão





















Farol da costeira que longe brilha
Plantado na pedra daquela ilha
Do navegante à noite é o seu guia,
É o anjo dos pélagos, seu vigia

Daqui se vê a luz forte e tronante
Olho noturno de olhar palpitante,
Como flertando as estrelas assim,
Que rolam nas vagas, desde os confins.

Luz da costeira que rompe a neblina,
Cega os meus olhos , a minha retina,
Para que eu não veja a luz desse adeus.

Nos olhos tão claros dessa menina,
Que fere o meu peito feito rapina,
Dê-me o invisível brumoso dos breus!


SBC-SP.José Alberto Lopes®
03/01/2003
Ilustração do autor
   

domingo, 6 de novembro de 2011

Haicai


Chuva de granizo-
Nas mãos quentes da menina
Num instante é sonho!



José Alberto Lopes.
nov.2011

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Haicai

doce como mel-
no galho do Pajurá
frutos e a infância.

 Homenagem  a minha amiga: Rosa Edna Bulcão
Obs; Aqui, por uma licença poética, chamei a árvore pelo próprio nome da fruta.
José Alberto Lopes.
Nov. 2011

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Carlos Drummond de Andrade - Dia D



Drummond

Ah! Caro amigo e poeta
Que tive a desonra de não ter conhecido, de  fato, carne e osso.
Mesmo assim, pulsas quando folheio
Em  busca de inspiração e deleite, a tua fonte inesgotável.
Não me importo  se estou a  cortejá-lo com o chapéu alheio, o teu próprio.
Mas espero que me perdoe, a minha petulância poética
A minha gramática ainda falha e a minha inspiração talvez pouca.
Também nasci no mato. A serra do mar me embalou.
E nesses “noves fora e mato  dentro”
Ousei-te um presentinho, pra festejar teu natalício!


Divagando

Naqueles bares, às mesinhas de mármore
As pessoas se sentavam
E ficavam horas e horas
Cavaqueando sobre isso e aquilo.

Nas velhas xícaras  do café
Espumoso e cheiroso
Ou no colarinho do chope gelado,
Poemas se revelavam.

Eram rabiscos entre petiscos,
Nos papéis enfarelados
De pães  adormecidos,
Entre moscas zumbideiras.

Porém, o tempo em Itabira
É  lento, mas não pára.
E o mundo rola, rola mundo!

Sua mineirice ganhou a cidade.
A cidade grande.
Seus poemas ganharam o mundo!


Parabéns para sempre, Drummond.


*Em 31 de outubro de 1902, nascia em Itabira do Mato Dentro, interior de Minas Gerais, o grande poeta Carlos Drummond de Andrade.


José Alberto Lopes.
out. 2011


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Haibun- O Achado



Haibun


O achado

Naquela tarde eu jogava de goleiro. 
Foi uma bola espichada que passou raspando a minha trave e caiu num capinzal.
Procurei, procurei, e nada de achar a bola. Porém, acabei tropeçando numa enorme abóbora.
Ignorei a bola diante de tal troféu. Para mim, o jogo terminara. De certa forma, me atraquei com o pesado vegetal,  e rumei para casa carregando-o às costas feliz da vida.
 Cubatão- SP.1965

*Haicai

Procurando a bola-
Abóbora de pescoço
Que ninguém plantou.


 Ilustração do próprio autor.
*Obs. O haicai acima é de autoria de JALopes. Porém,  um Haicai com as mesmas características e  publicado há mais tempo, encontrei na internet e é de autoria de Teruko Oda. e assim diz.:.


Procurando a bola-
as flores da aboboreira
que ninguém plantou.


 

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O mestre Saci





Em 2005 foi instituído o dia do Saci no Brasil, que se comemora no dia 31 de outubro a fim de restaurar as figuras do nosso folclore, em contraposição ao Halloweem.
       Confesso que em minhas andanças, certa feita vi um Saci. Esse, morava no oco de um bambu. Um dia ainda conto a história, preciso antes pedir permissão a ele.... rsrsr.  Um dos motivos pela qual quase já não se avista um hoje em dia é a devastação das florestas, habitat dessas incríveis criaturas.
        E em comemoração ao dia do Saci, eis aqui  uma prosa poética.

O mestre  Saci

Se a noite vai alta
não dê nenhum pio!
porque no assovio
lá vem o peralta.
Só quer é brincar,
fazer muita troça,
vivendo na roça
adora agitar!
O sal ficou doce?
o leite entornou?
o fogo apagou?
loucura ele trouxe?
.........
Passou por aqui
fumando o seu pito
batendo  o cambito,
o “mestre Saci”

José Alberto Lopes®
Out. 2010

O mestre Saci




Em 2005 foi instituído o dia do Saci no Brasil, que se comemora no dia 31 de outubro a fim de restaurar as figuras do nosso folclore, em contraposição ao Halloweem.
       Confesso que já vi um Saci, um dia ainda conto a história, preciso antes pedir permissão a ele.... rsrsr.  Um dos motivos pela qual quase já não se avista um hoje em dia, é a devastação das florestas, habitat dessas incríveis criaturas.
        E em comemoração ao dia do Saci, eis aqui  uma prosa poética.

O mestre  Saci
Se a noite vai alta
não dê nenhum pio!
porque no assovio
lá vem o peralta.
Só quer é brincar,
fazer muita troça,
vivendo na roça
adora agitar!
O sal ficou doce?
o leite entornou?
o fogo apagou?
loucura ele trouxe?
.........
Passou por aqui
fumando o seu pito
batendo  o cambito,
o “mestre Saci”


José Alberto Lopes®
Out. 2010

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Jataí.



Certa vez, localizei na fenda de um velho muro, um ninho  de  uma pequena melífera desprovida de ferrão, chamada Jataí.
Capturei-a e  a coloquei numa caixa previamente  construída fixando-a num mourão lá no fundo do quintal. Dava gosto vê-las trabalhando.
Como não possuem ferrão, a única defesa para a sua prole, é uma espécie de betume bem pegajoso que elas colocam bem na entrada da colméia, caso aconteçam ataques de formigas, vespas etc..
Notei  que cada função era dividida em grupos bem definidos. Desde as faxineiras, as pajens, os guardiões e  as que transitam  num ir e vir pelos campos.
À noitinha,  os guardiões fecham  o único orifício existente, com esse mesmo betume e cera, e abrem logo que a manhã  apresente  temperatura  propícia. Aí, reiniciam a nova lida.
Porém,  numa tarde quando regressei  do trabalho,  tive uma triste constatação.
Verifiquei que a  colméia estava vazia, abandonada. Tudo permanecera intacto. Os potinhos de cera com o finíssimo mel e pólen...


Jataí

Jataí, mel fino e raro,
Deixaste um gosto amaro
Quando apartaste de mim.
Inda te vejo entre as flores
Pequeninas, multicores
Que crescem no meu jardim.


Deixaste vazia a casa
Ao bateres  tuas asas
Meu inseto alfenim.
Até o doce do teu mel
Ficou amargo como fel,
Naquele favo-capim!


José Alberto Lopes.
25/08/2005

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Praça Giovani Breda - (SBC)




Praça Giovani Breda

Há um oásis no outeiro
Onde o ouro  da tardinha
Provoca mil ardentias,
Nas ramagens camarinhas.

Onde correm belos jovens
E caminham os idosos,
Brincam arfantes pequeninos,
Movendo-se tão graciosos.

Onde em bando, em revoada,
Buscam abrigo os pardais,
Mergulhando sobre as ramas
Como as ondas sobre um cais.

Minha praça me apetece,
Minha praça domingueira.
Aonde a lua faz pirraça
Entre as folhas da paineira.

Lá flutuam ágeis pipas
Lambendo as nuvens bordadas.
Tem formato de ciranda,
A minha praça tão amada.

Quer sobre a lousa fria
Desta ardósia lapidada,
Ou sobre o manto verdinho
Desta grama aparada.

Minha praça é  u’a moça
Que nunca, nunca envelhece.
É um velho moço a sorrir,
Uma criança que não cresce!



José Alberto Lopes.  SBC. - SP.
2003.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Haibun-IV



A primeira florada.

Um dia , alguém lá em casa comprou   jabuticabas. De algumas sementes, tomou meu velho pai e numa latinha as plantou.
Depois de algumas semanas o também velho tempo, revelou ali várias mudas viçosas que mais tarde no chão foram replantadas. E assim, o tempo passou.
Hoje, visitando o quintal  da casa de mamãe, tive uma grata surpresa. Sim, depois de 37 anos, aquela mesma  jabuticabeira se mostra carregada pela primeira vez.
Saí correndo e esfuziante, levando  para todos, as boas novas.


Haicai.

Grandes olhos negros-
essa jabuticabeira
Olhando  pra mim.



José Alberto Lopes.
Out. 05-2011


terça-feira, 4 de outubro de 2011

Haicais da primavera


Enquanto descanso
Lentamente  a primavera
Chega de casaca.

Nuvens cor de chumbo,
Lufadas na  janela-
Ainda, céu de inverno.

Meados de setembro-
Dizem que é primavera,
Mas o inverno insiste.

Sol de primavera-
Até o homem tristonho
Esboça   um sorriso.


 
José Alberto Lopes.
Ilustração do autor.
out. 2011

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Semínimas ( Terceto )



dentro da canção
semínimas voando
fazendo verão.

José Alberto Lopes. - Ilustração do autor.
set. 2011

Haicai


José Alberto Lopes.
Texto e ilustração do autor.
set. 2011

Haibun - I

Vila do sossego


Esta vila é muito pacata, sossegada até demais. Nenhuma novidade por aqui já há muito tempo, porém nesta tarde, algo inusitado ocorre quebrando a rotina.
Um enxame de abelhas se arrancha sobre a copa de uma roseira no quintal de casa, trazendo-nos pânico e ameaça para a criação. Os bombeiros são chamados e logo conseguem localizar a rainha que se encontra naquele bolo de ouriçados insetos. São tantas, que boa parte verga o pequeno arbusto e outra parte lança-se como uma tempestade sobre a vidraça da cozinha formando uma escura e espessa cortina viva.
O quintal é um zumbido só, da mesma forma que na rua em frente da casa,  aonde um enxame de pessoas curiosas também zumbe ruidosamente com seu falatório. A rainha é colocada dentro de uma caixa e as abelhas uma a uma dirigem-se para lá, atraídas pelo hormônio da rainha-mãe.
Antes que o sol desaparecesse atrás dos casarios, as abelhas e as pessoas já haviam deixado o local. Agora, um vento bonançoso sopra...


Haicai

silenciosa tarde-
na roseira  desfolhada
pousa um colibri.





José Alberto Lopes® 05/06/2008

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Tanka II

Longe vai o dia-
Como ficam alongadas
As noites de inverno.
        Lá se vão os pescadores,
        Cada vez mais longe os peixes.

Ago. 2011 -Texto e ilustração de José Alberto Lopes.

 (Peixe de lagoa)



sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Tanka - l

Sobre o Tanka :
Tanka, é um poema em cinco linhas com 31 sílabas, distribuídas em 5-7-5-7-7.
Se você já faz haikais, para fazer tanka é bem mais fácil, você precisa apenas, acrescentar um dístico de 7 sílabas ao final, como que explicando o que diz o haikai.
Da mesma forma que o famoso terceto japonês, tankas não têm título.
Em japonês tanka é escrito numa única linha vertical.
Paulo Lemininski
O tanka é muito mais antigo que o haikai . Começou no século VII, ou seja, há 14 séculos.
Haikai ou haiku tem três séculos, e são só os três primeiros versos do tanka.
O haikai é um poema mais conciso que libertou-se da segunda parte, as duas últimas linhas. Nem haikai, nem tanka têm rimas porque rimar para os japoneses é um recurso fácil demais.
Tradicionalmente, no primeiro dia do ano, os japoneses, a começar pelo Imperador, escrevem tanka sobre o novo ano.


UM TANKA DE JOSÉ ALBERTO LOPES
vagalumeando
a várzea toda parece
um céu estrelado.
      O sapo espreita a comida
      e o menino colhe astros.


José Alberto Lopes.
Ago. 2011
Obs;Foto retirada da internet. Se vc. é o autor dela, avise-me que a  retirarei

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Silêncio que se canta o Fado


















Silêncio  que se canta o fado!
Ouçam a voz do fadista insone
Que também finge ser verdade,
O fado que deveras lhe consome.

O fado é Amália Rodrigues
Traduzida em Madredeus
Que roubaram para os seus,
O cantar de um rouxinol.

O fado está nas quilhas,
Nas espumas, nas milhas,
No albatroz que cirandeia
A incansável embarcação.

É um  lamento dobrado
No aço da guitarra, o fado.
É a rosa, é o espinho
Tangendo a mesma mão.

E Deus, infinito e majestoso
Tendo os átomos evocado,
Fez o mundo, fez o homem,
Além do alecrim prateado.

Realçou o negrume da noite
Com pendões estrelados.
Do homem fez a mulher
E d’alma dela, fez-se o fado.

Silêncio que se canta o fado!
 Ilustração do próprio autor.

José Albeto lopes®
2005 SBC-SP- Brasil

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Cigarra cantando sete Haicais

Casa de  solteira-
Cachorro bebendo água
No  cano furado.

Aroma de vinho-
Uvaias esborrachadas
No  chão do vizinho.


O galho no rio-
Por um brevíssimo  tempo
Descanso da flor.

Será  meu senhor
Saindo do  velho tanque,
A  rã de Bashô.?

Estiagem longa-
Cabritada devorando
A embira da cerca.


Silenciosidade-
Parece que dá pra ouvir
O mato crescendo!

O cristo no morro
Com esse frio, se  pudesse-
Cruzaria os braços!

Ilustração do próprio autor.
José Alberto Lopes®
ago.  2011