segunda-feira, 15 de abril de 2013

A SERRA







Agora te vejo inteira, desnuda!
O noroeste varreu a cerração.
O! Muralha azulescente que beira o céu,
Que beija as nuvens pervagantes.

Os automóveis serpenteiam a tua arquitetura.
De dia,  são carreiras de formigas,
À noite, são graciosos pirilampos
Em chusmas ordenadas cortando o breu.

O Atlântico te espia saudoso e distante.
De lá vem essa brisa solfejando coisas, segredos...
Como o mar, também me afastei de ti.
Foi em teus artelhos que nasci!

Talvez um dia, quem sabe o mar retorne
Para afagar, intensa e definitivamente
A tua majestosa geografia!

Ah! Esse penacho de fogo inconstante
Que fulgura em teu contraforte,
É luz votiva por certo velando por ti!

O! saudosa e querida serra
Onde as manhãs gorjeiam
Desde as copas inalcançáveis
Até os abismos recamados de flores.

És impávido colosso, e eu apenas,
Frágil e efêmero como as cigarras
Que vibram as suas palhetas
Desde o cariçuma de verão!

Por isso, com a certeza de uma flecha Tupi,
Sei que quando enfim eu tomar
A minha estrada derradeira,
Tu ainda permanecerás
Colossal, exuberante e altaneira
Como se, a união de pirâmides e catedrais,
Por eternos e eternos séculos!

Teu clima inconstante
É como a minha alma!
O sol se vai e a neblina
Arrebata-te novamente.
Chegou como sempre sorrateira
E vai estendendo lentamente
A sua gaze leve e úmida
Sobre a tua pele de flúor e flores.
Sobre a tua sinfonia de águas e ventos,
De insetos, animais, aves e coisas do mato...

Parto!
Não como um navegador
Que cruza revoltos oceanos,
Ou o cosmo desconhecido,o deserto...
Nenhuma odisseia se avista! Não!
Apenas retorno à minha outra serrania,
Feita de aço e concreto,
Concretamente ruidosa e exasperante!

Levo um pouco do teu hálito.
Deixo-te umas efêmeras lembranças,
Minhas pegadas...
Levo um pouco da tua energia recriadora,
Muita saudade e uma flor de manacá.

O mar deixou em teus socavões
Pequenas conchas, priscas eras...
Eu, num suspiro deixo-te também
Humildes, mas profundos afagos em versos,
Um poema frágil.....

Quem sabe um dia, quem há de saber?
Zanzalá ecoe em teus vales
E esse tom de paz que encontro em ti
Possa finalmente ser rizoma de lírio do brejo.
E seremos todos; Tucas e Zéfiros.
E Schmidt descerá então triunfante
Flutuando sobre páginas de um livro em branco!


Nota: Cariçuma = “O romper da manhã sobre  a serra, no dialeto das Rãs” (Afonso Schmidt)

José Alberto Lopes.
15/04/2013-SBC. SP



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