Quem me dera – I (publicado)
Quem me dera que eu fosse
O barro do oleiro
E que humildes pés
me pisassem
e me transformassem em telhas
adobes, jarros....
Fosse as telhas que
protegem
As paredes que
resguardam
Fosse os jarros que saciam.
Sei que nem meu próprio
pó
Terá alguma serventia.
Mas, se pelo menos o
que escrevo
Se der humildemente em
um décimo
do barro do oleiro,
Já valeu a intenção de escrever!
Quem me
dera – II (publicado)
Quem me
dera eu fosse
Uma canoa
de tronco.
Levando e
trazendo peixes
Gente e
coisas.....
Dormiria ao relento como dormem
As canoas.
Sem dramas,
Vaidades,
lamentos..
E envelheceria
bem devagar...
Como
envelhecem as canoas.
E quando
um dia, sem mais serventia,
Morreria
aos poucos emborcada
Na beira
do rio
E ainda
serviria de brinquedo
Às
crianças ribeirinhas.
Até ser
esquecida de vez
E retornar ao chão da mata
De onde
um dia saí.
O ninho vazio
No galho de fronte
Há um ninho pequeno
Tramado com amor
Forrado com feno
É uma casa triste,
Jamais habitada
Nunca houve aurora
Em sua sacada!
Lá vejo um berço
Que nunca embalou.
Vazio como a alma
De quem atirou!
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Liliput
Liliput,
Não vos falo pois,
Do pequeno país de Gulliver
Mas, de uma grande paixão!
Que até hoje marca meu peito
Como o gado é marcado!
Um dia após muitos anos
A encontrei numa rua do cais
E lembrei-me de uma canção antiga
Que dizia: - “Estava ela, menos ingênua
E mais bela”
Então, roubei-lhe um beijo
E sua boca era como o vinho:
Que amadurece...!
Porém, não era mais
Aquela menina tímida, franzina,
Por quem um dia me enamorei.
Era como a lua
Que tem o encanto de todos,
Mas de fato! Não tem a ninguém.
Mesmo assim, por razões que a própria
Razão desconhece
Liliput, a pequenina, vive ainda
Em meu imaginário grande,
Num país situado no meu lado esquerdo!
Para onde sempre faço minhas Viagens...
E assim caminha a poesia
Assim tem sido a minha vida
Depois que passei a escrever de fato.
Logo de manhã numa xícara
De lábio carnudo sorvo um café
Saboroso, enquanto o pensamento
Me absorve por inteiro!
Escrever logo cedo é bom
Ouvindo ainda o silêncio
Do cantar dos pássaros...
Mas um dia desses
Quase em rebeldia
Perguntei ao meu espelho:
_Se todas as letras e tantas coisas
já foram escritas, ditas,
como pode haver tantas poesias
ainda a escrever?
E o espelho olhando bem nos meus olhos
Incontinenti respondeu:
_Creio que, se é por finitos algarismos
Que se pode contar infinitas estrelas,
Também, é com finitas letras
Que se escreve infinitas poesias...!
Mulher
Nem mil palavras,
nem outras pedras de Rosetas
seriam suficientes
para eu decifrar o coração
de uma Mulher!
e é bom que seja assim.
Porque, na presença,
num abraço
num sorriso,
num beijo
e palavras,
me surpreendem,
me arrebatam..
14/10/2016 Alberto Lobo de Campos - de José
Alberto Lopes®
A Rã da Bromélia
A rã da bromélia
nasce e vive ali.
Nenhuma lagoa,
que por mais bela e grande seja,
atrai a rã da bromélia!
Minha aldeia é pequena,
três ou quatro ruas...
Aqui nasci e vivo,
e vivo a escrever coisas sobre ela!
Minha aldeia em sendo pequena é grande!
grande por que me basta
assim como a bromélia
basta à rãzinha!
Minha aldeia, é minha bromélia!
Alberto Lobo de Campos- de José Alberto Lopes®
nov-16
Venha embora
Venha embora pra minha ilha
Aqui terás a praia que escolheres
A sombra fresca pra descansar
A cama macia onde repousarás
A fonte d’água mais pura.
Uma rede bordada com teu nome
Nos espera entre duas palmeiras!
Venha embora pra minha ilha
Aqui terás amor todas as feiras
Inclusive, sábados e domingos!
JAL / dez. 16
Diante dessa inflação
O meu ordenado é quase zero
Porque faltam zeros
No meu ordenado!
Nesta seca
Ao abrir um coco
Vi que sua água, também
Estava no volume morto!
É no presente
Que aprendemos com o passado
Para que o futuro seja um dia
O melhor dos passados!
A infância
Queria novamente ser feliz!
Dormir ao sol sobre o capim moreno
Junto aos melões pequenos
Daquela poesia de Ruiz!
Se o poema é filho
Que nasce para o mundo
Como encerrá-lo numa gaveta?
Horizonte é uma (linha)
Que mantém sempre
erguida
A minha pipa dos
sonhos!
CONTRASTES
Quem dera ouvir tão
somente
O cantar mavioso dos
pássaros
Em eternos madrigais!
Porém a vida também é feita
Dos gemidos dos pombos
Sobre os beirais...!
O Bosque das cigarras
(publicado)
Um dia resolvi ir até o
bosque
Ouvir as cigarras, pois
já era tempo delas.
Lá com certeza ouviria
cantatas de verão
Coisa de dar inveja a
Scarlatti, Stradella...
Mas não encontrei o
bosque.
O bosque não estava lá!
Havia sim em seu lugar
Um grande Shopping
E um largo
estacionamento.
Fiquei estupefato
diante daquilo.
Uma obra faraônica ali
erguida
E em tão pouco tempo
Como se viesse pronta
do alto
E naquele lugar se
instalasse!
E como se não bastasse
a minha imobilidade
Diante daquilo, algo
mais me deixou
Estarrecido, nervoso,
pois
Na fachada do enorme
prédio,
e aquilo, lógico, me
soou como um atentado!
Lia-se:
“SHOPPING CENTER BOSQUE DAS
CIGARRAS”
Sereno ( publicado)
Minha fronte pesa
Como uma rocha erguida.
Meus olhos são como
óculos embaçados
minhas mãos e pernas
são como varas ao
vento!
Sonhei esses versos
E espero que quando
Escrevê-los de fato,
Eu esteja sereno.
Sereno como uma rocha
na paisagem
Sereno como a névoa
Que flutua..
Sereno como o bambu
Na tempestade!
Jan. 2017
Eu vagalume:
E se eu fosse um
vagalume?
Voaria livre pelos
campos
E com meu sorriso fosforescente
Seria sempre um
promíscuo incorrigível
Porque a noite é breve
E a vida é apenas uma
noite!
Ser apanhado por uma
ave
Ou por uma rã...quem
saberia?
Poderia também ser
aprisionado
Pelas mãos dum menino
E esmagado por ele
Como tantas vezes eu mesmo
fiz.
Num risco luminoso, esverdeada
e frio
E simplesmente
Tudo se acabaria como
uma luz
Que vagarosamente se
extingue!
Seja o que for, em tudo
há um ponto final.
Jan 2017
Talvez tardiamente
(publicado)
A vida é breve, rápida
Mas os passos na velhice
Não são como na
juventude!
São lentos, imprecisos.
Talvez como se pudessem
retardar,
Inconscientemente,
Ainda que tardiamente,
O tempo que resta a
passar!
Jan. 2017
A janela (publicado)
Que invenção mais
poética
Poderia um arquiteto?
É por ela, a janela,
Que vejo a chuva, a
lua, a rua
As coisas passando
O céu, o véu, o
horizonte
O jardim de fronte!
Por onde entra o
perfume
A brisa, os sons dos
pássaros..
Bem, passaria um dia
inteiro a falar
Sobre o que vejo da
minha janela,
Mas, há pouco ou quase
nada a dizer
Sobre as janelas duma
prisão
Ou de uma janela de
quem
Se aprisiona a si
próprio!
Jan. 2017
Beleza (publicado)
A verdadeira beleza habita
aqui dentro..
Hoje de manhã vi uma
coisa semelhante:
Uma rara orquídea
Crescendo dentro de um pau
podre!
Pedras (publicado)
As pedras em nossos
caminhos
Jamais se transformarão
em flores,
Justo para que possamos
usá-las
Em nossos alicerces.
Pra não esquecer da
tragédia de Mariana.
Vilipêndio, homens
insossos.
Rio Doce
Amargos dejetos.
Sou Poeta (ensaio)
Sou poeta porque
Falo também da vida, do
amor
Do humor, das flores,
da morte...!
A poesia pede pra
nascer
O poeta não escolhe
Onde vai nascer.
Quando a luz se fez
A poesia já existia
Apenas se resguardara
na escuridão
E cabe ao poeta dar
luz, mas
Sem o fórceps pra não
feri-la.
O natural é a mais pura
manifestação.
Sem a maquiagem a
poesia mostra
A sua alma, sim, a
poesia também tem alma
Já me perguntei
De outros mundos fora
daqui
E se neles há poetas?
Penso que se lá houver
Amor, flores, humor, tristeza, morte...!
Também há de existir
poetas.!
Quando faz sol
(publicado)
Ao sol a pino
Minha sombra é apenas
Um ponto no chão.
Mas à tardinha é uma
flecha
Apontando para o leste!
Lá naquelas bandas
Ficou para sempre
A minha amada!
E até hoje a sua
lembrança
Me mortifica.
Por isso:
Não saio à tardinha
Quando faz sol!
A & S
O amor verdadeiro
Desnuda a alma.
O sexo, só o corpo!
Amor e sexo..........
Obra completa!
Estou assim (publicado)
Estou assim:
Tenho três gatos
Uma janela que dá para a
rua
E uma velha
escrivaninha.
Estou lendo “Pessoa e
Hilst”
Gosto de ler ou
escrever
Bem de madrugada
Porque há o silêncio!
E o silêncio
Amplifica certos sons.
Assim, posso entender
O que diz o vento, a
chuva,
As estrelas!
Ouço até o farfalhar de
alguma coruja!
Queres saber o que diz
O vento, a chuva e as
estrelas?
Fique em silêncio
contigo mesmo,
No silêncio da
madrugada!
Bem que tentei te ver,
não somente à tardinha.. tentei, até ouvi teus passos marcados.. porém.. não te
trouxeram até aqui..então fiquei a imaginar teu riso de fonte,teus braços, teus
beijos.. a tua mão na minha mão....
A Lua cheia!
Quanto mais caminho
Em sua direção,
Mais ela foge de mim.
Igual a minha
juventude!
O orvalho no fio.
Indeciso,
Parece ter medo saltar!
Você, indecisa,
Parece ter medo amar!
Ainda há o canto
Desnuda-te do rubor
que te aquece a face.
A minh’alma se
desprende
feito o som de um
tambor!
Toma o encanto da noite
e vem..
E se o canto te tentar,
Não cantes ainda,
Mas diga antes, tudo..
Sem reticências..
Deixa ao céu as
estrelas...
Desnuda-te do rubor
que te aquece a face
e diga-me por onde
andavas
e por que de ti eu não
sabia?
Ah! Se soubéssemos
De nós dois em auroras
passadas..
Talvez tivéssemos
vivido
Um sonho, um sonho
Preterindo este poema.
Coisas da vida!
Porém, mesmo nas
vindimas tardias
Encontraremos ainda
A doçura nos frutos.
Vibra agora, pois,
a tua garganta e canta!
Desejo sentir tuas mãos
de colcheias
E longas breves sem
pausas...
Canta cigarra noturna!
Que o Verão é ligeiro.
Canta que teu poeta
Já cai de sonhos...
Alberto Lobo de Campos
(ALCam) – fev. 2017
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