Vinhas...

Vinhas..

O meu corpo já era vinho

e o teu corpo, ainda eram as vinhas.

O meu corpo já envelhecido

e o teu corpo,frágeis gavinhas.

À mesa vinho encorpado

em taças muitas servido.

Rubis da terra tirados,

de mosto a vinho erguido.

Me vens assim tão menina

à minha idade dobrada!

Como podes  já ser vinho

antes da própria florada?

Como poderei ser a flor

de uma primavera de outrora?

Por que deus  só te plantou

para seres rebento, agora?

Eu sou safra de cinquenta

e tu, de sessenta és safra.

Por que enamoras de mim

se ora me tens numa garrafa?

Quem dera ainda tê-la,

na chuva, estio, flor e fruto.

Viver intensamente uma paixão

dentro desse  amor  oculto.

...aguardarei o teu tempo?

minha deusa, a mais bela.

Só temo o tempo  que passa

como um infante ao seu presente.

Minha deusa, a mais bela

deste imenso ocidente!