sábado, 7 de setembro de 2019

Frontispício de Poemas



Quem me dera

Quem me dera que eu fosse
O barro do oleiro
E que humildes pés
me pisassem
e me transformassem em telhas
adobes, jarros....

Fosse as telhas que protegem
As paredes que resguardam
Fosse os jarros que saciam.

Sei que nem meu próprio pó
           Terá alguma serventia.
Mas, se pelo menos o que escrevo
Se der humildemente em um décimo
do barro do oleiro,
Já valeu a intenção do poeta!


Quem me dera

Quem me dera que eu fosse
Uma canoa de tronco.
Levando e trazendo peixes
Gente e coisas.....
Dormir  ao relento, como dormem
As canoas, sem nenhum drama
E envelhecer bem devagar...
Como envelhecem as canoas.

E quando um dia, sem mais serventia
Morrer aos poucos, emborcada
Na beira do rio
E ainda servir de brinquedo
Às crianças ribeirinhas.
Até ser esquecida de vez
E me reintegrar ao chão da mata
De onde um dia saí.






O ninho vazio

No galho de fronte
Há um ninho pequeno
Tramado com amor
Forrado com feno

É uma casa triste,
Jamais habitada
Nunca houve aurora
Em sua sacada!

Lá vejo um berço
Que nunca embalou.
Vazio como a alma
De quem atirou!


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Liliput

Liliput,
Não vos falo pois,
Do pequeno país de Gulliver
Mas, de uma grande paixão!
Que até hoje marca meu peito
Como o gado é marcado!

Um dia após muitos anos
A encontrei numa rua do cais
E lembrei-me de uma canção antiga
Que dizia: - “Estava ela, menos ingênua
E mais bela”
Então, roubei-lhe um beijo
E sua boca era como o vinho:
Que amadurece...!

Porém, não era mais
Aquela menina tímida, franzina,
Por quem um dia me enamorei.
Era como a lua
Que tem o encanto de todos,
Mas de fato! Não tem a ninguém.

Mesmo assim, por razões que a própria
Razão desconhece
Liliput, a pequenina, vive ainda
Em meu imaginário grande,
Num país situado no meu lado esquerdo!
Para onde sempre faço minhas Viagens...


E assim caminha a poesia


Assim tem sido a minha vida
Depois que passei a escrever de fato.
Logo de manhã numa xícara
De lábio carnudo sorvo um café
Saboroso, enquanto o pensamento
Me absorve por inteiro!

Escrever logo cedo é bom
Ouvindo ainda o silêncio
Do cantar dos pássaros...
Mas um dia desses
Quase em rebeldia
Perguntei ao meu espelho:
_Se todas as letras e tantas coisas
já foram escritas, ditas,
como pode haver tantas poesias
ainda a escrever?
E o espelho olhando bem nos meus olhos
Incontinenti respondeu:
_Creio que, se é por finitos algarismos
Que se pode contar infinitas estrelas,
Também, é com finitas letras
Que se escreve infinitas poesias...!

Mulher

Nem mil palavras,
nem outras pedras de Rosetas
seriam suficientes
para eu decifrar o coração
de uma Mulher!
e é bom que seja assim.
Porque, na presença,
num abraço
num sorriso,
num beijo
e palavras,
me surpreendem,
me arrebatam..


14/10/2016 Alberto Lobo de Campos - heterônimo de José Alberto Lopes®


A Rã da Bromélia

A rã da bromélia
nasce e vive ali.
Nenhuma lagoa,
que por mais bela e grande seja,
atrai a rã da bromélia!

Minha aldeia é pequena,
três ou quatro ruas...
Aqui nasci e vivo,
e vivo a escrever coisas sobre ela!

Minha aldeia em sendo pequena é grande!
grande por que me basta
assim como a bromélia
basta à rãzinha!
Minha aldeia, é minha bromélia!



Alberto Lobo de Campos-heterônimo de José Alberto Lopes®
nov-16



Venha embora

Venha embora pra minha ilha
Aqui terás a praia que escolheres
A sombra fresca pra descansar
A cama macia onde repousarás
A fonte d’água mais pura.

Uma rede bordada com teu nome
Nos espera entre duas palmeiras!

Venha embora pra minha ilha
Aqui terás amor todas as feiras
Inclusive, sábados e domingos!

JAL / dez. 16

Diante dessa inflação
O meu ordenado é quase zero
Porque faltam zeros
No meu ordenado!


Nesta seca
Ao abrir um coco
Vi que sua água, também
Estava no volume morto!


É no presente
Que aprendemos com o passado
Para que o futuro seja um dia
O melhor dos presentes!


A infância

Queria novamente ser feliz!
Dormir ao sol sobre o capim moreno
           Junto aos melões pequenos
Daquela poesia de Ruiz!

Se o poema é filho
Que nasce para o mundo
Como encerrá-lo numa gaveta?


Horizonte é uma (linha)
Que mantém sempre erguida
A minha pipa dos sonhos!




CONTRASTES

Quem dera ouvir tão somente
O cantar mavioso dos pássaros
Em eternos madrigais!
Porém a vida também é feita
Dos gemidos dos pombos
Sobre os beirais...!


O Bosque das cigarras (publicado)

Um dia resolvi ir até o bosque
Ouvir as cigarras, pois já era tempo delas.
Lá com certeza ouviria cantatas de verão
Coisa de dar inveja a Scarlatti, Stradella...
Mas não encontrei o bosque.
O bosque não estava lá!
Havia sim em seu lugar
Um grande Shopping
E um largo estacionamento.
Fiquei estupefato diante daquilo.
Uma obra faraônica ali erguida
E em tão pouco tempo
Como se viesse pronta do alto
E naquele lugar se instalasse!
E como se não bastasse a minha imobilidade
Diante daquilo, algo mais me deixou
Estarrecido, nervoso, pois
Na fachada do enorme prédio,
e aquilo, lógico, me soou como um atentado!
Lia-se:
           “SHOPPING CENTER BOSQUE DAS CIGARRAS”



Sereno ( publicado)

Minha fronte pesa
Como uma rocha erguida.
Meus olhos são como
óculos embaçados
minhas mãos e pernas
são como varas ao vento!

Sonhei esses versos
E espero que quando
Escrevê-los de fato,
Eu esteja sereno.
Sereno como uma rocha
na paisagem
Sereno como a névoa
Que flutua..
Sereno como o bambu
Na tempestade!

Jan. 2017


Eu vagalume:

E se eu fosse um vagalume?
Voaria livre pelos campos
E com meu sorriso fosforescente
Seria sempre um promíscuo incorrigível
Porque a noite é breve
E a vida é apenas uma noite!

Ser apanhado por uma ave
Ou por uma rã...quem saberia?
Poderia também ser aprisionado
Pelas mãos dum menino
E esmagado por ele
Como tantas vezes eu mesmo fiz.
E alimentando a curiosidade
E a satisfação me transformaria
Num risco luminoso, esverdeada e frio
E simplesmente
Tudo se acabaria como uma luz
Que vagarosamente se extingue!
Seja o que for, em tudo há um ponto final.

Jan 2017



Talvez tardiamente

A vida é breve, rápida
Mas os passos na velhice
Não são como na juventude!
São lentos, imprecisos.
Talvez como se pudessem retardar,
Inconscientemente,
Ainda que tardiamente,
O tempo que resta a passar!

Jan. 2017


A janela (publicado)

Que invenção mais poética
Poderia um arquiteto?
É por ela, a janela,
Que vejo a chuva, a lua, a rua
As coisas passando
O céu, o véu, o horizonte
O jardim de fronte!
Por onde entra o perfume
A brisa, os sons dos pássaros..
Bem, passaria um dia inteiro a falar
Sobre o que vejo da minha janela,
Mas, há pouco ou quase nada a dizer
Sobre as janelas duma prisão
Ou de uma janela de quem
Se aprisiona a si próprio!

Jan. 2017


Beleza (publicado)

A verdadeira beleza habita aqui dentro..
Hoje de manhã vi uma coisa semelhante:
Uma rara orquídea
Crescendo dentro de um pau podre!


Pedras (publicado)

As pedras em nossos caminhos
Jamais se transformarão em flores,
Justo para que possamos usá-las
Em nossos alicerces.



Pra não esquecer da tragédia de Mariana.

Vilipêndio, homens insossos.
Rio Doce
Amargos dejetos.


Sou Poeta (ensaio)

Sou poeta porque
Falo também da vida, do amor
Do humor, das flores, da morte...!
A poesia pede pra nascer
O poeta não escolhe
Onde vai nascer.
Quando a luz se fez
A poesia já existia
Apenas se resguardara na escuridão
E cabe ao poeta dar luz, mas
Sem o fórceps pra não feri-la.

O natural é a mais pura manifestação.
Sem a maquiagem a poesia mostra
A sua alma, sim, a poesia também tem alma

Já me perguntei
De outros mundos fora daqui
E se neles há poetas?
Penso que se lá houver
Amor, flores, humor, morte...!
Também há de existir poetas.!

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