Quadro de Salvador Dalí.
O relógio
Tic tac, tic tac...
No silêncio das moscas
Um pulsar incessante
Do solitário e nômade
Relógio de corda.
De dia, na cristaleira
Na companhia dos pratos.
À noite, na cabeceira
Entre copos e remédios.
De dia, na cristaleira
Na companhia dos pratos.
À noite, na cabeceira
Entre copos e remédios.
A carcaça perdera a cor.
Talvez verde ou turquesa.
Seu dial desbotado
Como foto antiga
E visor embaçado,
Marcado,míope.
Mas ainda era forte
No seu tic tac, tic tac...
No repique matinal,
Sempre um braço sonolento
Esticava-lhe uma mão
De censura.
De censura.
Oh! artefato de medir o tempo.
cujos passos incontáveis dos segundos
conduzem nossas
existências; início e fim!
cujos passos incontáveis dos segundos
conduzem nossas
existências; início e fim!
Mas o tempo e a poeira,
Irmãos bivitelinos
Com suas mãos de camurça
Sempre com suas troças...
Começara a falhar.
- Que horas são?
Perguntavam
Olhando-o com desprezo.
Já não tinha mais crédito.
Andava ofegante,
Aos trancos.
Nem lubrificantes,
Limpeza torácica,
Ajuste da âncora
Deram mais jeito!
E assim continuou;
Tic.............tac
Num dia de outono
De céu carregado
De vento soprando
As coisas no chão.
Um pau de vassoura
Que ia e vinha
Golpeou sem querer
O velho maluco!
Caiu lá de cima
Como cai uma estrela,
No chão da cozinha
E espatifou-se.
A campana gemeu
Derradeiro suspiro,
Foi curto, abafado.
Depois, o silêncio.
Em cacos miúdos,
O visor embaçado
E as vísceras soltas,
Entornadas no chão.
Baixou a criada
De unhas vermelhas
Largou da vassoura
E pôs-se a colher.
Nervosa e pálida,
Com muita pressa
Parecia recolher
Cada segundo
Que o velho relógio
Já havia marcado.
José Alberto Lopes
06 de junho de 2012
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