Pelas Ondas do Rádio
[uma crônica]
Tratava-se
de um aparelho de rádio a válvula, um pouco mais moderno que o estilo
“capelinha” que já perdia espaço para os formatos mais avançados. Mas em se
tratando da tecnologia, em quase nada houve alteração! Se não me falha a
memória, sua marca escrevia-se da seguinte forma: CHRISCO.
Havia
em seu frontal superior direito o chamado – olho-mágico, de cor esverdeada (bem viva) cujo brilho variava
conforme a sintonia da emissora que se
procurava. Seu móvel chamava a atenção pelo esmero no acabamento. A madeira era
de jacarandá e para conservá-la, era recomendável o uso do famoso óleo de
peroba, aquele que também tem uma cabeça de índio.
Era
um rádio-receptor multifaixas que necessitava de eficiente terra e
principalmente uma antena externa para uma boa recepção. À noite essa recepção, principalmente as ondas curtas
[Short-wave] era maravilhosa, devido a ausência dos raios solares que
interferiam nas ondas de rádio, assim diziam os entendidos.
Em
seu dial em esmerado silk-screen, lia-se em cores variadas as marcações de
ondas médias, curtas, tropicais. Ainda não havia a frequência modulada.(FM).
Somente
meu pai manuseava o tal receptor de rádio. E para garantir a integridade física e funcional do aparelho,
ele o colocava sobre uma prateleira bem alta, fora do nosso alcance. Porém nos
sábados e domingos, para nosso deleite, o rádio ficava sobre a mesa de jantar e
lá ficávamos a ouvir dentre outras estações, a BBC de Londres, a Voz da
América, emissoras Suecas, Alemães, Chinesas
e até Coreanas. Mas o que em mim chamava mais atenção, era a traseira do
receptor onde pela tampa de proteção através das janelinhas de ventilação,
posto que aparelhos valvulados apresentavam super aquecimento, eu viajava num
mundo fantástico: Achava que cada uma daquelas válvulas com seu brilho
avermelhado fosse uma espécie de arranha-céu e seu conjunto, uma pequena cidade
habitada pelos artistas que a gente ouvia através das ondas do rádio.
E
lá ficava eu a imaginar em qual deles eu poderia encontrar: Virgínia de Moraes,
Manoel da Nóbrega, Sônia Ribeiro, Sarita Campos, Vicente Leporace, Ronald
Golias, Alvarenga e Ranchinho...... entre muitos outros.
Um
dia, chegou a televisão e ela me mostrou em tempo quase todos aqueles artistas
que eram do rádio e que migraram, muitos, para a TV. Nunca mais olhei para a
traseira de um rádio, imaginando aquelas coisas. Mas, a mágica do rádio nunca
terminou para mim. A maravilha de ouvir rádio continua impregnado
na minha alma. Posto que quando escrevo e estudo e mesmo em outros
afazeres, estou sempre em companhia
dessa invenção maravilhosa que é o RÁDIO!
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