terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Pelas Ondas do Rádio

 

Pelas Ondas do Rádio

[uma crônica]

 

 

Tratava-se de um aparelho de rádio a válvula, um pouco mais moderno que o estilo “capelinha” que já perdia espaço para os formatos mais avançados. Mas em se tratando da tecnologia, em quase nada houve alteração! Se não me falha a memória, sua marca escrevia-se da seguinte forma: CHRISCO.

Havia em seu frontal superior direito o chamado – olho-mágico, de cor  esverdeada (bem viva) cujo brilho variava conforme a sintonia  da emissora que se procurava. Seu móvel chamava a atenção pelo esmero no acabamento. A madeira era de jacarandá e para conservá-la, era recomendável o uso do famoso óleo de peroba, aquele que também tem uma cabeça de índio.

Era um rádio-receptor multifaixas que necessitava de eficiente terra e principalmente uma antena externa para uma boa recepção. À noite  essa recepção, principalmente as ondas curtas [Short-wave] era maravilhosa, devido a ausência dos raios solares que interferiam nas ondas de rádio, assim diziam os entendidos.

Em seu dial em esmerado silk-screen, lia-se em cores variadas as marcações de ondas médias, curtas, tropicais. Ainda não havia a frequência modulada.(FM).

Somente meu pai manuseava o tal receptor de rádio. E para garantir  a integridade física e funcional do aparelho, ele o colocava sobre uma prateleira bem alta, fora do nosso alcance. Porém nos sábados e domingos, para nosso deleite, o rádio ficava sobre a mesa de jantar e lá ficávamos a ouvir dentre outras estações, a BBC de Londres, a Voz da América, emissoras  Suecas, Alemães, Chinesas e até Coreanas. Mas o que em mim chamava mais atenção, era a traseira do receptor onde pela tampa de proteção através das janelinhas de ventilação, posto que aparelhos valvulados apresentavam super aquecimento, eu viajava num mundo fantástico: Achava que cada uma daquelas válvulas com seu brilho avermelhado fosse uma espécie de arranha-céu e seu conjunto, uma pequena cidade habitada pelos artistas que a gente ouvia através das ondas do rádio.

E lá ficava eu a imaginar em qual deles eu poderia encontrar: Virgínia de Moraes, Manoel da Nóbrega, Sônia Ribeiro, Sarita Campos, Vicente Leporace, Ronald Golias, Alvarenga e Ranchinho...... entre muitos outros.

Um dia, chegou a televisão e ela me mostrou em tempo quase todos aqueles artistas que eram do rádio e que migraram, muitos, para a TV. Nunca mais olhei para a traseira de um rádio, imaginando aquelas coisas. Mas, a mágica do rádio nunca terminou para mim. A maravilha de ouvir rádio continua  impregnado  na minha alma. Posto que quando escrevo e estudo e mesmo em outros afazeres, estou sempre em companhia  dessa invenção maravilhosa que é o RÁDIO!

 

De JAL. - 2021

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